A crueldade por trás da sua selfie com animais.

A crueldade por trás da sua selfie com animais.

A primeira vez que viajei para o exterior foi em 1990 quando meu pai levou minha família para a Disney. Eu tinha 9 anos, desde pequena sempre fui apaixonada por animais e lembro até hoje da emoção de assistir e ver ao show da famosa baleia orca “Shamu” no Sea World em Orlando. Chorei quando vi ela saltando e molhando as pessoas na arquibancada. Na época eu só pensava que um dia queria estar ali, como aquelas pessoas, trabalhando e tendo contato direto com aqueles animais incríveis. 
Em 1995, 5 anos depois voltei ao mesmo parque e assisti novamente aqueles mesmos shows e sentindo as mesmas emoções. 
Anos depois estive em Punta Cana, onde nadei com golfinhos, tirando aquelas fotos famosas onde ele dá um beijinho na sua bochecha e cheguei a colocar aquela foto, que eu achava linda, num porta retrato. 
Quando criança, quantas e quantas vezes, estive em circos e achava lindo aqueles animais dançando e fazendo brincadeiras.

Até que alguns anos atrás, a ficha caiu. Parei e comecei a me perguntar:

– Como aqueles animais faziam tudo aquilo? 
– Como eles eram tirados da natureza e estavam ali em contato tão próximo de pessoas?
– Como eles eram treinados? 
– Como os elefantes conseguem carregar turistas nas costas? mas são animais selvagens, como eles se adaptam a isto? 
– Como as orcas conseguem viver naquele tanque minúsculo por uma vida inteira, sendo que elas podem ficar anos nos oceanos?

Com todas estas dúvidas em mente, o que eu fiz? 

Fui atrás de informação. Comecei a ver documentários, filmes, pesquisar na Internet pq eu queria uma resposta para tudo aquilo e meu deus, a ficha caiu mais ainda e o que senti? Vergonha! Sim,vergonha de em vários momentos da minha vida ter contribuído para o sofrimento daqueles lindos animais, ter dado dinheiro para as empresas e financiar todo aquele turismo exploratório e cruel e depois senti uma tristeza enorme por começar a descobrir tudo o que de mais cruel estes lindos animais sofrem para serem treinados para servir aos turistas. Um vida inteira de abusos para que as pessoas tenha uma selfie para colocar nas suas redes sociais.
Foi neste exato momento que jurei que nunca mais iria ajudar a financiar esta crueldade, onde os animais são explorados para serem escravos dos turistas e tb com todas as minhas forças (ainda mais trabalhando com turismo) iria divulgar ao máximo para que mais e mais pessoas soubessem tudo o que acontece por trás de um lindo passeio de elefante na Índia, um nado com golfinhos, um show de orcas no Sea World…..

De todas as minhas pesquisas, encontrei números assustadores: De acordo com a Organização Mundial de Turismo, o turismo de vida selvagem representa entre 20% e 40% do valor anual gerado pela indústria turística no mundo – uma soma nada modesta de US$ 1,5 trilhão.  
Mais de 550.000 animais silvestres em todo o mundo, incluindo elefantes, preguiças, tigres e golfinhos, suportam diariamente terríveis condições de crueldade com o único objetivo de entretenimento turístico. Uma recente pesquisa divulgada pela University of Surrey (Reino Unido) e a Proteção Animal Mundial, revelou que a grande maioria das associações e organizações voltadas para o turismo não têm feito nada para orientar empresas e associados com diretrizes em relação à exploração de animais silvestres.

Talvez você não tenha consciência, mas manter golfinhos em cativeiro e obrigá-los a fazer piruetas é cruel, assim como torturar elefantes bebês para que se acostumem a carregar humanos nas suas costas. O que tenho para falar é que muita gente ainda não sabe disso e mesmo quem já tem alguma noção geralmente desconhece as implicações das atrações turísticas com animais.  

Ano passado estive no Marrocos. Já fui para lá morrendo de medo do que estaria me esperando pq sei que é um destino que utiliza os animais para tudo.  Todos do meu grupo queriam tirar as famosas fotos com os dromedários. Sabe como é a vida destes animais? Eles passam o dia na beira da estrada, com uma corda de cerca de 10 cm presas na suas patas e não conseguem dar nem um passo. Os ônibus de turistas param, os turistas sobem neles, tiram fotos e nem 10 min depois estas fotos já estão nas redes sociais. E a vida daqueles dromedários ? Eles continuam em uma vida de abusos e sofrimento sem conseguir dar uma passo devido aquela corda minúscula presa na sua pata.  

Por isso, quero e devo compartilhar algumas das atrações turísticas com animais mais cruéis do mundo e assim na sua próxima viagem, não financie e deixe de lado qualquer empreendimento que tenha animais como atrações. 

TIGRES: filhotes são tirados cedo da mãe e passam o dia de mão em mão com turistas. Enquanto crescem, são comumente confinados em jaulas de concreto de menos de 20 m² (enquanto na natureza eles caminham de 16 a 32 km todas as noites) e são submetidos a treinamentos duros para prepará-los para performances e interação com as pessoas. O problema veio à tona na mídia em 2009, quando uma das atrações com tigres mais famosas da Tailândia, o Tiger Temple da cidade de Kanchanaburi, começou a ser investigado por tráfico de órgãos e membros de tigre; em junho de 2016 as autoridades do país confiscaram os 147 tigres que viviam ali. Hoje ainda há cerca de 830 tigres sendo usados em atrações turísticas por lá. Numa pesquisa da World Animal Protection, as piores condições foram encontradas no Sriracha Tiger Zoo, próximo à cidade litorânea de Pattaya, onde os animais são usados em shows circenses – muitos estavam subnutridos e com marcas de feridas.

ELEFANTES: O paquiderme que morreu no Camboja após levar um turista no lombo em abril de 2016 evidenciou mais uma vez um dos casos de crueldade animal com maior adesão dos turistas. Na Tailândia, epicentro do problema, cerca de 1300 elefantes são usados para promover passeios e apresentações ao todo. Muitos vivem acorrentados, obrigados a trabalhar sob calor extremo da região, não têm abrigo adequado (alguns passam a noite amarrados na beira de estradas), nem cuidados veterinários. Para serem treinados, são usados objetos pontiagudos, varas, chicotes e até processos de tortura (com períodos sem água e comida). Na África (África do Sul, Zâmbia, Zimbábue e Botswana), há pelo menos 39 estabelecimentos desse tipo “empregando” cerca de 215 elefantes para passeios, shows e interações. Impulsionado pela indústria turística, filhotes de elefantes podem valer até US$ 60 mil, o que leva à captura ilegal.

LEÕES: Atrações turísticas com animais: na África do Sul há 150 “lion parks”, onde 5800 leões são reproduzidos puramente para fins lucrativos. Nesses parques os filhotes são separados das mães com menos de um mês (na natureza ficam até 8 meses junto delas) para aparecerem em fotos de centenas de pessoas diariamente. Quando adultos, muitos desses leões se tornam agressivos devido ao estresse e, como não podem ser soltos na natureza, são sacrificados, mantidos em jaulas apertadas para exibição ou vendidos para “lion farms”, espaços confinados onde eles podem legalmente ser caçados por quem pagar (isso mesmo). A população da espécie diminuiu mais de dois terços nos últimos 30 anos no continente africano.

GOLFINHOS: Segundo a organização Ceta-Base, 2100 golfinhos são mantidos em cativeiro em 59 países (a maioria nos EUA, Japão, China e México). Muitos ainda são capturados na natureza com métodos cruéis (principalmente em Taiji, no Japão, e no Caribe) para serem vendidos para aquários e centros onde é possível nadar e brincar com os animais. Eles são obrigados a trabalhar jornadas abusivas realizando truques repetidas vezes. O jeito brincalhão e afetivo camufla a realidade triste que vivem em piscinas com espaço limitado (frequentemente tratadas com cloro, que causa irritações na pele e olhos deles), onde sofrem de automutilação, ataques cardíacos e distúrbios mentais.

BALEIAS: Os maus-tratos a baleias orcas em cativeiro foram evidenciados pelo documentário Blackfish, de 2013 – aliás, a baleia Tilikum, o grande foco do filme, morreu agora em janeiro. Animais que na natureza podem nadar até 60 metros de profundidade e viajar mais 150 quilômetros em um dia são mantidos em tanques pequenos e acometidos por estresse, problemas genéticos (por reprodução entre parentes) e mortalidade precoce. O filme também mostrou como desenvolvem comportamentos agressivos e os diversos casos de ataques a treinadores encobertos pelas empresas onde trabalhavam. Belugas também são comumente usadas para entretenimento no Canadá e nos Estados Unidos.

MACACOS: Por sua inteligência e fácil domesticação, macacos são usados ao redor do mundo em shows performáticos onde têm condições ruins de alojamento e sofrem treinamento agressivo pra se apresentarem em circos, na rua, zoológicos e outras atrações – em lugares medonhos como o Phuket Monkey School, na Tailândia. Do Brasil à Cingapura, Tailândia, Indonésia e Japão, os animais também são alimentados incorretamente pelos turistas, principalmente próximos de centros urbanos, causando doenças e eventuais ataques pela aproximação indevida das pessoas. Em muitos locais são oferecidos “monkey tours”, que não têm nenhum cuidado com o bem-estar dos bichos: eles despejam uma galera em locais onde vivem muitos macacos e deixam todo mundo dar comida e brincar com eles.


URSOS:
 Há dezenas de “parques de ursos” pelo mundo, onde eles vivem apertados em jaulas (ursos são animais solitários na natureza, então essas superlotações causam brigas e mortes entre eles). Em muitos países ainda são usados em circos.

COBRAS: Você possivelmente já viu alguém na rua com cobras cobrando pra você segurá-las e tirar fotos com elas (é muito comum na Ásia). Essas cobras são normalmente capturadas na natureza e têm seus dutos de veneno removidos ou bloqueados (nesse processo muitas acabam feridas ou mortas).

CROCODILOS: Nos Estados Unidos, Austrália e Tailândia são muto comuns “fazendas” de crocodilos (onde eles são reproduzidos para servir à indústria da moda, pela carne e outras razões) abertas à visitação. A World Animal Protection documenta que muitas delas têm condições de vida insalubres para os bichos. Devido ao estresse de viverem em jaulas de concreto com muitos animais, eles brigam, arrancam pernas uns dos outros e até se matam.

ATRAÇÕES TURÍSTICAS COM ANIMAIS: COMO AGIR EM RELAÇÃO A ZOOLÓGICOS E AQUÁRIOS?

Eles são polêmicos. Mesmo para crianças, a PETA, uma das maiores organizações de direitos dos animais do mundo, relativiza o valor educativo que um zoológico possa ter – o que ela de fato aprende sobre conservação ambiental vendo o animal preso fora de seu habitat?A veterinária Heather Rally, da PETA, também alerta para o fato de que mais da metade dos animais dos aquários serem tirados da natureza e que 80% deles morre durante processos de transporte. Como os animais aquáticos são muito sensíveis, qualquer erro no tratamento dos tanques (no oxigênio, por exemplo) pode resultar em mortes massivas. De acordo com o PETA, houveram incidentes com mortes de arraias pelo menos uma vez por ano nos últimos 9 anos. Em julho de 2016, por exemplo, 18 arraias foram encontradas mortas num tanque de um zoológico em Michigan, nos Estados Unidos, após um erro no bombeamento da água. Em 2015, um acidente similar em Chicago causou a morte de 54 arraias.

DICAS PARA NÃO COLABORAR COM A CRUELDADE EM ATRAÇÕES TURÍSTICAS COM ANIMAIS:

– Não participe de atividades em que você possa tocar animais silvestres, salvo alguns casos de alguns santuários, e não assista shows performáticos. Nas duas situações, eles precisam ser sedados, separados de suas mães ainda filhotes, privados de comida ou adestrados de maneira punitiva.

– Não vá desavisado: pesquise sobre o lugar que você vai visitar ou a empresa que pretende contratar. Os sites de atrações cruéis mentem e forjam a realidade dos animais que vivem ali.

– Não pague para ver lutas com ou entre animais, nem em eventos considerados culturais. Na Espanha, cerca de 40 000 touros são mortos anualmente em touradas, brigas e eventos tradicionais como a Festa de San Firmino.

– Não compre souvenirs feitos de animais: couro de jacaré, pele de cobra, marfim, borboletas.

– Animais domésticos (cavalos, camelos, lhamas) também podem ser tratados com crueldade. A PETA documenta uma longa lista de acidentes com charretes em grandes cidades, onde cavalos têm péssimas condições de alojamento e são obrigados a trabalhar e puxar mais peso do que podem.

– Prefira sempre ver os animais na natureza, em mergulhos, áreas protegidas e parques nacionais. Alguns santuários que cuidam de animais resgatados ou centros de conservação como o Projeto TAMAR também oferecem boas experiências. De acordo com a pesquisa da Universidade de Oxford, 25% das atrações analisadas, que abrigam cerca de 13 000 animais, têm impacto positivo na preservação de espécies.

Fonte: https://www.carpemundi.com.br/atracoes-turisticas-com-animais-crueldade/

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